Dona Zizinha era uma doce senhora, avó carinhosa, mãe amorosa, esposa zelosa. Num belo domingo, meus avós se preparavam para a missa das 18:00h. Meu avô "Sô Geraldo" levantou-se de seu costumeiro cochilo após o almoço, arrumava-se para ir à missa, mas sua camisa estava um pouco amassada. Minha avó disse carinhosamente: "_Se você aparecer na igreja com essa camisa amarrotada o padre vai te excomungar."
Meu avô, com sua calma rotineira, argumentou que vestiria um pulôver por cima e depois o paletó do terno, portanto, da camisa, só apareceria a gola, que estava intacta. Mas Dona Zizinha não se dava por vencida tão facilmente e continuou falando na cabeça de meu avô enquanto ele a ignorava solenemente, já que era homem de falar uma vez só. Dona Zizinha falou por cerca de meia hora, não parava nem para respirar "_O capeta vai puxar seu pé por ir com essa camisa na missa! Deus não vai te perdoar! Eu não vou com você parecendo o Morgança (o mendigo da cidade)! Blá!Bla!Blá!..."
Até que meu avô, sem dizer palavra alguma, simplesmente, arrancou a camisa com uma puxada só, nunca vou esquecer os botões voando por todas as direções, os olhos arregalados de minha avó assustada e por fim, calada, e meu avô voltando calmamente para o quarto, com aquele ar de alívio e satisfação de trabalho feito nos olhos.
Minha avó olhou para todos com a carinha mais inocente e magoada do mundo e disse:
"_Mas eu não fiz nada..."