quinta-feira, 17 de março de 2011

Mas eu não fiz nada...

Dona Zizinha era uma doce senhora, avó carinhosa, mãe amorosa, esposa zelosa. Num belo domingo, meus avós se preparavam para a missa das 18:00h. Meu avô "Sô Geraldo" levantou-se de seu costumeiro cochilo após o almoço, arrumava-se para ir à missa, mas sua camisa estava um pouco amassada. Minha avó disse carinhosamente: "_Se você aparecer na igreja com essa camisa amarrotada o padre vai te excomungar."
Meu avô, com sua calma rotineira, argumentou que vestiria um pulôver por cima e depois o paletó do terno, portanto, da camisa, só apareceria a gola, que estava intacta. Mas Dona Zizinha não se dava por vencida tão facilmente e continuou falando na cabeça de meu avô enquanto ele a ignorava solenemente, já que era homem de falar uma vez só. Dona Zizinha falou por cerca de meia hora, não parava nem para respirar "_O capeta vai puxar seu pé por ir com essa camisa na missa! Deus não vai te perdoar! Eu não vou com você parecendo o Morgança (o mendigo da cidade)!  Blá!Bla!Blá!..."
Até que meu avô, sem dizer palavra alguma, simplesmente, arrancou a camisa com uma puxada só, nunca vou esquecer os botões voando por todas as direções, os olhos arregalados de minha avó assustada e por fim, calada, e meu avô voltando calmamente para o quarto, com aquele ar de alívio e satisfação de trabalho feito nos olhos.
Minha avó olhou para todos com a carinha mais inocente e magoada do mundo e disse:
"_Mas eu não fiz nada..."

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quando criei esse blog meu intuito era registrar algumas lembranças da minha infância e rechear com algumas receitas de minha querida avó Zizinha. Mas como toda a lembrança infantil, as minhas recordações se confundem com lembranças imaginativas. Isso é tipico do ser humano, pegamos o fato, tiramos o pó, lixamos as imperfeições e pintamos com cores mais bonitas. Chamamos de " licença poética". Mas agora quero me ater aos fatos.
Minha avó não era a Dna Benta e não vivia na beira do fogão de lenha com avental de babado e colher de pau na mão. Fazia sim, algumas coisas deliciosas, outras nem tanto, as vezes fazia pratos que me embrulhavam o estomago, como o arroz que ela cobria com "tecos" gigantescos de um queijo que ela mesma fazia e que tinha um cheiro azedo e engordurado, e sempre tinha sal de mais. ou quando, por engano, colocou sal na canjica e percebendo o erro à encheu de açúcar para compensar, o negócio tinha gosto de soro. ainda teve a vez em que minha irmã, se recuperando de uma "leve indisposição pós festa", curtindo o gosto do cabo de guarda-chuva, e minha avó, com todo o carinho e cuidado de avó zelosa que era, levou o café na cama para minha irmã dizendo: " Vocês jovens gostam de pão frito então eu fiz pra você..." mas por inocência minha avó fritou o pão como se frita batata, imerso em gordura de porco. Ainda bem que o quarto tinha janela e Dna Zizinha nunca soube porque o cachorro passou tão mal.
Portanto, para as avós de plantão: Pão frito é só um pão com manteiga passado na frigideira e não adianta trocar as vazilhas de sal e açúcar pois as formigas não sabem ler quem se enganam são vocês.
Lamento aos que sonhavam com essa Dna Zizinha imaginária, mas vou ficar com a real pois era muito mais divertida afinal Dna Benta só existiu mesmo no Sitio do Pica-pau amarelo talvez criada do mesmo modo por Monteiro Lobato.
Quanto as receitas, a partir de agora passo a postar minhas própias receitas, inspiradas ou adaptadas a partir de minha memória...
...Ou de minha imaginação...

Anderson Salgado